quinta-feira, abril 06, 2006

Eles continuem a coisar à tua pergunta...


A Associação Fonográfica Portuguesa (AFN) apresentou hoje as primeiras 28 queixas-crime contra utilizadores dos serviços ilegais de sites de downloads de ficheiros de música.

Não vou tecer considerações de valor moralistas acerca do fenómeno (até porque sou um pecador), mas quero deixar as duas questões que balizam este problema, não sendo a resposta positiva a ambas uma contradição insanável:

Será a pirataria um crime hediondo que poderá matar a criação artística? Ou é uma forma de democratização dos conteúdos culturais?

Não considero demagógica a acção da AFN e intriga-me a opinião de que é um atentado aos direitos individuais dos cidadãos (como se o cometimento de crimes estivesse protegido pelo direito à reserva da vida privada). Mas considero-a despropositada porque a resposta a este problema só pode passar pelo preço e pela renúncia das produtoras à soberba: é o preço justo que mata a pirataria e qualquer outra forma autoritária de o fazer será um fracasso. A não ser que a nacional chico-esperteza esteja de tal forma enraízada no nosso ser português que nos torna imunes a qualquer tipo de decência. E, se assim for, haverá sempre pirataria.


OS MAFIOSOS DA MORALIDADE

A indústria dos discos e do cinema está a atacar em força. O último site a cair foi o LokiTorrent. Tenho a certeza de que muitos outros se seguirão. A perseguição aos “criminosos” está em marcha há muito tempo.
Sei muito bem que, ao sacar um determinado ficheiro, posso estar a violar a protecção dos direitos de autor. É uma verdade indiscutível – mas não é a única.
Organizações como a MPAA ou a RIAA não estão apenas preocupadas com a perda do dinheiro - mas também com a perda de influência. A Internet dá-nos um acesso rápido e certeiro à informação de que precisamos, como e quando precisamos. Sem qualquer tipo de controlo. E disso eles não gostam.

O que essas indústrias verdadeiramente receiam é um ambiente onde a Informação se sobrepõe ao Marketing. Sacas a música e ouves; se gostas, podes (e deves) comprar o CD; se não gostas, não compras. Este tipo de ambiente ainda pode ser mais nocivo para os industriais da arte do que os putos sem dinheiro que sacam CDs. Porquê? Porque tem o poder de mudar mentalidades. A troca livre de ficheiros proporciona uma liberdade de escolha sem intermediários, onde a música é avaliada apenas pela música e não pelo ruído publicitário. Como é possível que tantos músicos medíocres tenham tanto sucesso? Porque uma geração inteira de putos está a ser educada pela MTV a avaliar a música com os olhos. Mas se essa geração se habituar a pensar pela própria cabeça, valorizando a Informação e não o Marketing dos videoclips, então eles ainda podem perder mais dinheiro. Acreditem, os mafiosos estão à rasca.

Lido aqui